quarta-feira, 27 de março de 2013

Hardest of Hearts

Me deixe cavar mais sete palmos, me deixe. Meus olhos ardem mais do que nunca e eu não tenho nada que possa me tirar dessa sobriedade. E no fim dos tempos, eu sei, mesmo que você vá embora, eu vou estar contigo. Mas por agora me deixe cavar meus sete palmos a mais, deixe que eu faça disso um hobby e me devolvam meu caixão enfeitado.




- Quer ficar sem me ver por um tempo?



- Vai doer.




- Não só em você.



E eu mantive meus olhos fechados, pois sabia que se olhasse para aqueles grandes olhos castanhos, todas as palavras em minha mente sairiam com mais facilidade. Esses olhos que me hipnotizam. Eu não quero ir contra a corrente, só quero permanecer a salvo na margem, e não ir junto com a correnteza. Prefiro deixar o rio passar. Mas mesmo tentando ficar na margem, eu sei, estou indo mais fundo do que eu poderia, e mais sete palmos são cavados. Me dêem meu caixão, pois eu tenho um amor que não consigo tirar e que não sai de minha boca. Me dêem logo esta merda, quero agora, antes que tudo se desfaça. Já que estou sóbria, me ponha em meu caixão enfeitado e jogue-me a terra. Não há desculpas para as condições que me vejo, eu me pus aqui. Cavei mais sete palmos que o normal, me deixe ir, desta vez.
Não haverá, nunca alguém por aqui e a canção já terminou, pois então que se acrescente mais sete palmos e que minha hidropônica se faça presente. A água entra em meus pulmões e eu continuo a respira, não consigo parar, meus pulmões incham e até que seja tarde demais, eu estarei no fundo, onde se tornou o lugar mais seguro no final. Eu sei onde irá terminar, não gostaria, mas sei. Mesmo sabendo, ainda é algo que me preenche, pois está grudado em minha língua e estampado em meu rosto, escorre pela minha pele e me deixa marcas. Não saberás como fui tola, uma boba, mas isso não é desculpa para o estado em que me vejo.




There's love in our bodies
And it holds us together
But pulls us apart
When we're holding each other
We all want something to hold in the night
We don't care if it hurts or we're holding too tight ♪

sábado, 16 de março de 2013

Asleep

Se torna um pouco dificil carregar um peso assim, talvez eu esteja construindo meu próprio caixão. Deixe-me enfeitá-lo então, para que pelo menos eu tenha um pouco de alegria. Sim, eu estou sóbria e os olhos ainda ardendo, ainda há dor e eu destrui meu lar. É mais do que achei que poderia suportar, porém uma coisa é simples de entender, foi tudo real e sem ilusões. Talvez eu esteja querendo mais do que sete palmos, talvez... Eu só queria meu poder de volta. Preciso usar alguém, alguém como eu para que eu possa me erguer sem ameaças, sem medo. Sou boa em usar pessoas e destruir vidas, assim ninguém destroi a minha.
- Não chore. - Eu disse - Não chore. - E as lágrimas escorreram a contra gosto, fazendo-me encolher em minha cama. Não há ninguém cantando para eu  dormir, estou sozinha. E quando adormeço, torço para que ninguém me acorde, pois não quero acordar e olhar para o lado e perceber que continua vazio o espaço que você deveria preencher. Mas não se sinta mal, não, de forma alguma, as vezes eu fico até feliz por ter ido embora.

Don't try to wake me in the morning
'Cause I will be gone
Don't feel bad for me
I want you to know
Deep in the cell of my heart
I will feel so glad to go ♪
 

E então o vi do outro lado da rua e cavei mais sete palmos. Ele ficava a me olhar, de maneira sutil, não havia julgamentos ou perguntas, ele simplesmente me envolveu em seus braços com tamanha força que me fez crer que estar ali era o certo. O olhar dele concentrado em mim, isso sempre me deixou sem graça, mas eu gosto.
- Senti sua falta.
- Eu também.
E a paz reinou, e eu não poderia simplesmente largá-lo assim. Essa plenitude que só me vem quando estou com ele, eu sei, eu talvez esteja me destruindo aos poucos, mas nunca gostei tanto dessa dor. E tudo o que eu falava dormindo e não era dito de dita me consumia. E me rasgava. Todos os dialogos que criei em minha cabeça nunca aconteceram, mas isso nunca me importou. Eu sabia onde queria estar... ali, com ele. Já quase concordei com muita coisa que me disseram, e depois vi que era loucura. Para os outros isso não faz sentido algum, mas para mim faz e eu continuo, insisto. Talvez eu só esteja inventando artificios para não perdê-lo. Tudo o que está em mim, está porque eu deixei ser desse jeito, estou ciente dos atos e se me perguntar de novo se me arrependo, direi novamente que não. As vezes quando ele me olha daquele jeito que só ele sabe, é... aquele jeito que me faz encolher, tudo na minha mente simplesmente desaparece. E quando me encontro sozinha no meu quarto, o cheiro dele me invade, a unica coisa que pode me aliviar, para que eu consiga dormir.
O ônibus para, falta pouco, o coração bate mais forte e o sorriso me escapa ao rosto. "De onde vem tanta alegria?" eu não conseguia parar de me perguntar, a ansiedade me tomava conta e todas as vezes era assim, desde o primeiro encontro. A preocupação com a roupa, com os atos, se estou bonita ou não para ele. Mas tudo parecia desaparecer e toda aquela preocupação se desfazia simplesmente com um olhar, com aqueles grandes olhos castanhos que eu era apaixonada e não me cansava de admirar. Suas mãos firmes e me envolviam pela cintura e tocava-me a face respondia a minha pergunta de minutos atrás e se ele não estivesse me segurando, eu teria ido ao chão, pois parece que ele suga toda a minha energia, me deixava em êxtase.
E toda noite eu deito em minha cama imaginando como seria se ele subisse a minha janela. Lhe beijaria, tocaria-lhe a face, poderia dividir o mesmo ar e em minha mente e vida nada mais importava, pois eu estaria em casa, teria um lar, um lugar seguro que pudesse apoiar a cabeça. A vela azul que queimava deixava-me tranquila, azul esse que me fazia lembrar dele, para que então pudesse descansar e fechar os olhos, até sentir sua respiração próxima a minha. Ele tinha mãos grandes e firmes que me seguravam e me suspendeu,  mantive os olhos fechados e o abracei sorrindo levemente. Eu confiava nele, mantinha os olhos fechados e me deixava levar, pois essa dança quem conduzia era ele.



E no meu corpo ainda sinto o seu perfume
O resultado do nosso confronto
E se para os outros já não faz sentido
Eu continuo tentando insistindo ♪




Quando eu começei a escrever, eu tinha tomado a minha decisão. Talvez se eu não tivesse ido vê-lo ou conversado com ele, talvez não teriamos esclarecido tanta coisa. E eu odeio o fato de ele não precisar abrir a boca pra conseguir mudar a minha opinião. Odeio saber o que ele se tornou... pra mim e eu odeio admitir isso. Mas não há vicio maior, aceitação maior, um mundo melhor, vida melhor do que esta. E com a maior naturalidade do mundo ele me diz pra deixar rolar, é só deixar rolar. Mas é aqui que eu deixo isso acontecer. E quando percebemos nossas brincadeiras e intimidade, notamos que é algo absurdamente surreal, mas tão gostosa de ter. E me mesmo ele bagunçando e tumultuando tudo em mim, ousando sabendo que sempre vou te dar um sim, é algo que não trocaria por nada na vida.




Você me bagunça e tumultua tudo em mim
E ainda joga baixo, eu acho, nem sei,
Só sei que foi assim ♪