-Que máscara? Não há nenhuma.
-Ora, claro que há.
-O que está tentando me dizer? Que sou falsa?
-Não.
-Então conte, porque diz isso?
-Me conte você, o porque desta máscara tampando seu rosto. Está tão cega que nem mesmo você vê. O que há? Porque usa isso?
Não há nada. Me deixe, eu enxergo do meu modo e não há nenhuma máscara.
-Enxerga do seu ponto de visto, do que lhe parece mais agradável enxergar quando se tem o mundo e pessoas agradáveis e doces sempre dispostas a te ajudar.
-Não, chega. Não comece com esse discurso.
-Pois me diga então, o que houve? Porque és assim?
-Queres mesmo saber?
-Sim.
-Sente-se. - Dei um longo gole na minha taça de vinho e começei: eu odeio confiar nas pessoas e depois descobrir que estas não valem nada, odeio quando contam algo que fiz ao invéz de vir conversar comigo, eu odeio ser a frágil, aprendi a ser mais forte e muitos não aguentam, odeio magoar e ferir quem eu gosto, mas odeio ter que pensar nos outros sempre, odeio quando me julgam, dizem o que eu tenho que fazer e falar, odeio não ter quem eu quero por perto em carne, odeio ter que ser forte o tempo todo, odeio quando me abandonam, odeio quando me sufocam e acham que estão certos.
-Quanto ódio.
-É.
-Mas tire essa máscara, fica melhor sem ela. Você é linda. E eu não vou te abandonar.
-Já ouvi isso antes.
-Mas não de mim.
-É.
-Então...
-Não.
-Mas porque?
-Porque há um buraco em mim, não tem como preencher. Espaços vazios, espaços grandes demais. E tudo o que eu pensava e falava era dominado pelo silêncio, ninguém me ouve. E quando tudo parece clarear, a noite me assombra com as lembranças e acabo sendo dominada pela minha mente e coração.
-Nossa.
-Não há luz, não há olhos brilhando prontos para me salvar. E isso é violento demais, não tenho como fazer desaparecer e eu faria qualquer coisa para que ela ficasse.
-E porque não diz isso a ela?
-Porque está tudo tumultuado, eu grito e ela não me ouve. Há milhões de pessoas e eu desapareço no meio delas. Eu quero fazer direito. Mas odeio o modo como me julgam e ela é a minha única salvação. E tudo o que fiz...
-O que você fez? Está me assustando. Nunca te vi assim.
-Não há brilho nos olhos azuis dela, e tudo o que eu fiz por ela, o que me tornei por ela. E fui abandonada. É fácil gritar em meio a multidão, ela não me ouve. Mas quando estamos a sós, se torna tão dificil. Ela foi uma revelação para mim, mas um erro.
-Por isso o ódio?
-Sim.
-Mas é passado.
-Mas continua doendo.
-Você vai superar.
-Essa é uma conversa que não posso ter esta noite.
-Eu vou continuar aqui.
-Tanto faz.