terça-feira, 25 de dezembro de 2012

No light


- Porque esta máscara?

-Que máscara? Não há nenhuma.

-Ora, claro que há.

-O que está tentando me dizer? Que sou falsa?

-Não.

-Então conte, porque diz isso?

-Me conte você, o porque desta máscara tampando seu rosto. Está tão cega que nem mesmo você vê. O que há? Porque usa isso?
Não há nada. Me deixe, eu enxergo do meu modo e não há nenhuma máscara.

-Enxerga do seu ponto de visto, do que lhe parece mais agradável enxergar quando se tem o mundo e pessoas agradáveis e doces sempre dispostas a te ajudar.

-Não, chega. Não comece com esse discurso.

-Pois me diga então, o que houve? Porque és assim?

-Queres mesmo saber?

-Sim.

-Sente-se. - Dei um longo gole na minha taça de vinho e começei: eu odeio confiar nas pessoas e depois descobrir que estas não valem nada, odeio quando contam algo que fiz ao invéz de vir conversar comigo, eu odeio ser a frágil, aprendi a ser mais forte e muitos não aguentam, odeio magoar e ferir quem eu gosto, mas odeio ter que pensar nos outros sempre, odeio quando me julgam, dizem o que eu tenho que fazer e falar, odeio não ter quem eu quero por perto em carne, odeio ter que ser forte o tempo todo, odeio quando me abandonam, odeio quando me sufocam e acham que estão certos.

-Quanto ódio.

-É.

-Mas tire essa máscara, fica melhor sem ela. Você é linda. E eu não vou te abandonar.

-Já ouvi isso antes.

-Mas não de mim.

-É.

-Então...

-Não.

-Mas porque?

-Porque há um buraco em mim, não tem como preencher. Espaços vazios, espaços grandes demais. E tudo o que eu pensava e falava era dominado pelo silêncio, ninguém me ouve. E quando tudo parece clarear, a noite me assombra com as lembranças e acabo sendo dominada pela minha mente e coração. 

-Nossa.

-Não há luz, não há olhos brilhando prontos para me salvar. E isso é violento demais, não tenho como fazer desaparecer e eu faria qualquer coisa para que ela ficasse.

-E porque não diz isso a ela?

-Porque está tudo tumultuado, eu grito e ela não me ouve. Há milhões de pessoas e eu desapareço no meio delas. Eu quero fazer direito. Mas odeio o modo como me julgam e ela é a minha única salvação. E tudo o que fiz...

-O que você fez? Está me assustando. Nunca te vi assim.

-Não há brilho nos olhos azuis dela, e tudo o que eu fiz por ela, o que me tornei por ela. E fui abandonada. É fácil gritar em meio a multidão, ela não me ouve. Mas quando estamos a sós, se torna tão dificil. Ela foi uma revelação para mim, mas um erro.

-Por isso o ódio?

-Sim.

-Mas é passado.

-Mas continua doendo.

-Você vai superar.

-Essa é uma conversa que não posso ter esta noite.

-Eu vou continuar aqui.

-Tanto faz.




                               

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

What the water gave me


O céu cinzento ameaçava chorar, os ventos gelados não me incomodavam mais, dobrei minhas calças e lancei-me na areia, sem medo. Caminhei lentamente para aquela me tentava delicadamente. Senti ímpetos de me juntar a ela , de me jogar, sentir toda a água pelo meu corpo, pois o tempo passou rápido demais e eu fiquei só, resgatando somente o que Ela me deu. Os passos incertos deixados para trás sendo apagados para que fossem também apagados de minha memória. E o único som que pude ouvir era o transbordar da água e minhas mãos cheias de conchas.
E como o tempo passava rápido, rápido demais enferrujando minhas lembranças, deixando adormecido meus pés, preenchendo-me de som e ansiando por uma salvação ele veio. As águas me trouxeram ele com voz serena e gentil para que retirasse o peso que instalou-se em mim. E a sua voz transbordava compaixão e os seus bolsos cheios de pedras o deixavam firme no chão enquanto eu me lançava na água sem querer voltar. Teria outra forma? Ele me segurou pela mão e pediu para retornar, mas estava na hora da troca, não tinha como fugir. Porque fingia, oh amante cruel essa, era inesquecível e a água me levava, eu não pretendia voltar porque o único som que realmente me preenche e transborda é Dela, que me deita em seus braços e me acalanta quando tudo é desespero. E as pedras que carreguei arremessei ao vento, as conchas me pertenciam. 
O tempo que se passou entre nós dois foi rápido e ele não me abandonou, pegando aquilo o que a água lhe ofertou. Ele foi meu atlas e meu guia, deitando-me na areia macia, conchas em suas mãos. Não existia outra forma. Fui tragada e cuspida. Deite-se meu bem, o tempo passa rápido e deixe transbordar o som, esvazie os bolsos e deixe que a água te leve, te consuma, te transborde, porque os céus estão prestes a chorar e os ventos anunciam a sua dor. Quando sou tragada, tudo se tranquiliza, pois lá no fundo é belo e eu posso respirar.






Eu sei o que a água me trouxe, eu sei e sinto tudo o que ela me oferta. E por vezes sinto falta, pois Ela sou eu e eu sou Dela. Faço por mim. Deixo-me ser tragada pela mais gelada água, sem medo... feliz. E os dias cinzentos me envolvem ouvindo sua voz dourada me trazendo de volta para a areia, não existindo mais pesar. Meu Atlas que me trouxe para casa dizendo que já era hora, preocupou-se e não me abandonou. Nem por um minuto. Mesmo quando não pude respirar. A água me trouxe de volta para ele, mas ainda assim sei, que os braços da água me carregam e que o paraíso não foi feito para uma pecadora como eu. E mesmo com tudo acabado eu achei um lugar de paz, um lugar onde posso apoiar minha cabeça e descansar, mesmo eu andando por dias, sem rumo. 
Dizendo meu nome ele consegue me trazer de volta das profundezas e o mundo ilumina-se de dourado. Oceano nos envolve, nos arremate a idéias longas, delicadas.








Promessa de concha não se pode quebrar.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Just a dream


O garoto e sua câmera buscando por algo que ela não entendia. Ele concentrado nem percebe a presença dela que precisa passar por ele para chegar no seu lugar naquele corredor imenso. De um lado, ela via quem entrava e quem saia, parecia um festa, mas ela não estava no clima e sentou-se junto a mãe.  Ao passar  por ele percebeu que ele buscava o foco de um objeto bem longe dos dois.
- Porque você não pode ser normal igual aos outros caras? - Ela disse, sorrindo para ele, corando em seguida. E o sorriso dele a desconsertou. Sentou-se em seu lugar e sentia que perdia o folego. O observava de longe, o cabelo negro feito noite um pouco bagunçado, os olhos pretos levemente puxados quase que para fechar, mas ela ainda enxergava os olhos enormes, a pele um pouco morena... Era magro, mas não tanto, tinha um corpo muito bonito, ele era alto, não muito mas o suficiente para ela erguer um pouco a cabeça para olha-lo e vestia uma blusa azul escura e jeans. Notou tudo nele, a forma como ele mexia a cabeça tirando o cabelo do rosto, como ele praticamente fritava os neurônios tentando achar um solução para algum problema que ela não conseguiu identificar. De repente ela o vê indo em sua direção  ela perde novamente o fôlego e pega suas anotações aleatórias e finge estar escrevendo, ele passa por ela, para e depois de  um curto tempo ele se vira.- O que você esta fazendo? - ele indaga olhando para os papeis.- Nada só escrevendo, coisa idiota! - Ela responde sentindo seu rosto esquentar. Sabia que estava corando e desviou daqueles olhos. Ele deu um passo em sua direção e roubou os papeis. Sorrindo para ela, correu. - Hey, volte aqui. São minhas anotações! - Eu preciso ver. - Me devolva. - Ela disse e o viu largar o bolo de seus papeis no chão e descer as escadas,  ela o chamou inutilmente. Ela se agachou para recolher os papeis quando viu um clarão perturbar os céus escuros pela chuva. Um homem entra correndo, pálido, parecendo ter visto um fantasma.- Fomos atacados, eles estão atacando de novo! - O homem diz.Mas quem estaria atacando de novo, sentiu a garganta fechar novamente e a lhe faltar o ar. Se encostou na parede e assistiu a sua mãe se aproximar em silencio, as pessoas na parte inferior paralisadas pelo medo e os clarões do lado de fora. Ninguém se mexia, saia ou entrava naquele lugar. E com a falta de oxigênio ela passou a perder pouco a pouco a sua visão e consciência.




E então eu acordei!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Vamos nos permitir

E olhando aquele pequeno pedaço de papel lembrou-se de cada detalhe e sentiu um orgulho que só ela conseguiria sentir e não saberia explicar. Talvez pudesse tentar dizendo que foi um grande passo dado, sentiu-se evoluir, fortalecida. Mas nem as palavras poderiam explicar, estava muito além. Sentir lhe bastava, era o que importava e mesmo com tudo dando errado, não desistiu, lhe deram aquele posto por algum motivo e não poderia simplesmente dizer "não, não farei mais" por não estar segura. E assim iniciou-se a música.
Utilizou a força que existia dentro dela e manteve a calma, deixou seu corpo absorver a música que ali tocava. E os movimentos fluiram, os braços erguidos, giros e a saia subindo deixando-a feliz e girando mais. Sorria sempre que podia, mas não entregou-se completamente, o nervosismo ainda a controlava. E com o passar do tempo, deixou o nervosismo de lado e se divertiu. Isso dava muito mais sentido ao que estava fazendo. E desta vez não teve medo.
A música lhe tomou conta novamente, deixou os movimentos surgirem, naturais. E o sorriso foi mais espontâneo, mais feliz. Verdadeiro. E mesmo que parecesse difícil, não se importou. Continuou  "Mostrem que não precisam de roupa pra dançar", foram as palavras ditas. Isso a preencheu e dançou sem pudor, sem medo de falhar.